Embraer, produtores de laranja e frigoríficos: veja os setores mais afetados pela tarifa de Trump
Produtores de suco de laranja, por exemplo, avaliam que taxa de 50% pode inviabilizar vendas aos EUA

Setores da economia que exportam para os EUA lamentaram a decisão de Trump de impor tarifa de 50% aos produtos brasileiros, e criticam o fato de questões geopolíticas terem se sobreposto à diplomacia. No caso do suco de laranja, por exemplo, a entidade que representa o setor vê até mesmo a inviabilidade de manter as vendas ao mercado americano. Outras apontam um forte impacto nos negócios. Confira, abaixo, o efeito para cada setor.
Embraer
Entre empresas que mais são afetadas pela medida está a Embraer, fabricante nacional de aviões. Os Estados Unidos representam 60% das vendas de jatos executivos da empresa. A Embraer tem fábrica nos Estados Unidos, com 500 funcionários, e atua localmente há 45 anos. As aeronaves fabricadas em território americano têm grande conteúdo de produtos dos EUA.
Relatório dos analistas do Citi aponta que, no setor de transporte, a Embraer é a empresa mais afetada pela tarifa de Trump. O Citi lembra que, no segmento de aviação comercial, 55% da carteira de pedidos firmes da Embraer é encomendada por companhias aéreas dos EUA, com os jatos E175-E1 representando cerca de 97% desses pedidos. As ações da Embraer operam em queda de mais de 7% na B3, enquanto as ADRs despencam mais de 9% na Bolsa de Nova York.
“No entanto, é importante lembrar que cerca de 50% a 60% dos componentes desses jatos são fabricados nos EUA, permitindo deduções proporcionais de impostos sobre essas entregas, o que poderia mitigar o efeito tarifário sobre as margens”, afirmam os analistas do Citi.
Analistas de diferentes bancos projetam perdas de até US$ 150 milhões em lucros no segundo semestre, com risco de suspensão de entregas de jatos regionais e revisão de contratos com companhias como a SkyWest.
Em nota, a Embraer informou que está avaliando os possíveis impactos em seus negócios da possibilidade de aumento de tarifa sobre os produtos brasileiros, caso o decreto se aplique à indústria de aviação no Brasil.
“A empresa está trabalhando com as autoridades competentes visando reestabelecer a alíquota zero dos impostos de importação para o setor aeronáutico”, explicou em nota.
Carne
A venda de carne bovina para os EUA cresceu 102% em receita e 112,6% em volume. Entre janeiro e junho, deste ano foram exportadas 181.477 toneladas de carne, frente às 85.365 toneladas exportadas no mesmo período do ano passado. A receita obtida este ano, até agora, foi de US$ 1,04 bilhão, com preço médio de US$ 5,7 mil por tonelada. Os Estados Unidos responderam por 12,33% do total das exportações brasileiras do produto no primeiro semestre.
Os Estados Unidos são o 12° principal destino das exportações de carne suína, com 14,9 mil toneladas exportadas entre janeiro e junho, gerando receitas de US$ 31,6 milhões. E os americanos compraram15,2 mil toneladas de ovos, no primeiro semestre, gerando receitas de US$ 33,1 milhões.
A Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), que representa os produtores de carne suína e frangos, disse em nota que confia que as negociações se mantenham dentro do mais alto nível das relações comerciais e que haja uma solução rápida e diplomática para a questão.
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No setor de carne bovina, a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que representa 43 empresas do setor, defendeu que questões geopolíticas não devem se transformar em barreiras aos abastecimento global e à segurança alimentar.
A entidade afirma que qualquer aumento de tarifa sobre produtos brasileiros representa um entrave ao comércio internacional e impacta negativamente o setor produtivo da carne bovina.
“A associação segue à disposição para contribuir com o diálogo, de modo que medidas dessa natureza não gerem impactos para os setores produtivos brasileiros nem para os consumidores americanos, que recebem nossos produtos com qualidade, regularidade e preços acessíveis”, diz em nota.
Suco de Laranja
Entre os exportadores de suco de laranja, a CitrusBR, entidade que representa o setor, explica que da safra 2024/25, encerrada em 30 de junho, os Estados Unidos representaram 41,7% das exportações brasileiras do produto, somando US$ 1,31 bilhão em faturamento, conforme dados da Secex.
A CitrusBR explica que uma tarifa de 50% sobre o produto representa um aumento de 533% sobre os US$ 415 em tributos cobrados sobre a tonelada do suco brasileiro. Considerando a cotação da Bolsa de Nova Iorque de 9 de julho (US$ 3.600 por tonelada de suco concentrado), cerca de US$ 2.600 — ou 72% do valor total do produto — passariam a ser recolhidos em tributos, inviabilizando as exportações para aquele mercado com prejuízos para toda a cadeia.
“Trata-se de uma condição insustentável para o setor, que não possui margem para absorver esse tipo de impacto. A medida também afeta empresas americanas que têm no Brasil o seu principal fornecedor de suco de laranja”, explica a CitrusBR em nota.
Entre as consequências da tarifa, a entidade aponta a interrupção de colheitas, desorganização do fluxo de fábricas e paralisação do comércio diante de um cenário de incerteza. As consequências são graves: colheitas são interrompidas, o fluxo das fábricas é desorganizado, e o comércio é paralisado diante da incerteza, explica a entidade.
“As consequências sobre a produção nacional, os empregos e a competitividade do setor seriam imediatas. A CitrusBR reitera a necessidade de que o Brasil exerça plenamente sua tradição diplomática, mobilizando todos os recursos do Estado brasileiro para lidar na proteção dos interesses dos seus cidadãos, do emprego e da renda”, diz o texto.
Café
Os Estados Unidos são o maior consumidor de café no mundo , com cerca de 24 milhões de sacas por ano, e dependem dos países produtores de café, como o Brasil (maior exportador do mundo, que fornece 30% do café consumido por lá), para abastecer seu mercado interno. Os contratos futuros de café, com vencimento em setembro deste ano, subiam 1,2% na Bolsa de Nova York nesta quinta-feira.
A Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) vê impactos negativos em toda a cadeia produtiva do café brasileiro, comprometendo a competitividade e pressionado custos operacionais em um momento de reorganização do mercado global. Para os consumidores americanos, o preço do produto deverá subir.
Etanol e açúcar
O CEO da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) entidade, José Guilherme Nogueira, afirma que o tarifaço de Trump preocupa pelo potencial de impacto nas exportações brasileiras e na competitividade do etanol nacional nos EUA.
— Trata-se de uma tarifa que pode afetar diretamente o setor sucroenergético, comprometendo o equilíbrio comercial entre os dois países e penalizando, inclusive, o consumidor americano, que poderá arcar com preços mais altos no combustível e no açúcar — explica ele, lembrando que Brasil e EUA possuem as duas mais avançadas indústrias de etanol do mundo. Ele diz que há preocupação com a possibilidade de desencorajar avanços no setor de biocombustíveis, gerando impactos ambientais e econômicos negativos. — É fundamental que os governos mantenham as portas abertas à negociação, na previsibilidade regulatória e na importância da transição energética global”, conclui o CEO.
WEG
Entre outras empresas afetadas, aponta relatório do Citi, está a WEG, do setor de bens de capital, que tem receita líquida de 7% a 8% advianda dos EUA. Procurada, a empresa ainda não comentou possíveis impactos. As ações da Weg caem perto de 1% na B3.
No setor de carnes, os analistas do Citi citam o frigorífico Minerva como importante exportador de carne ao mercado bovino e que poderia ser impactado. A Minerva em comunicado ao mercado informou que exporta para os Estados Unidos através de suas operações no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Austrália. Nos últimos 12 meses, cerca de 16% da receita veio do mercado americano, com o Brasil representando 30% dessa exposição.
“Desse modo, as exportações brasileiras e sujeitas a nova política tributária, apresentam impacto potencial máximo ao redor de 5% da receita líquida”, explicou a empresa, lembrando a estratégia de diversificação geográfica adotada pela companhia, permitindo arbitrar os mercados, reduzir riscos e respondendo com eficiência ás mudanças de cenário. As ações da Minerva caem mais de 4% na B3.