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Bolsonaro define Flávio como candidato à Presidência e abala cálculos eleitorais da direita para 2026

Decisão tomada durante visita à prisão deixa governadores como Tarcísio de Freitas sem o apoio do ex-presidente e pode reconfigurar alianças no campo conservador

O ex-presidente Jair Bolsonaro, atualmente cumprindo pena de 27 anos e 3 meses de prisão por tentativa de golpe de Estado na Superintendência da Polícia Federal em Brasília, definiu o filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ) como seu candidato oficial à Presidência da República nas eleições de 2026. A confirmação foi dada nesta sexta-feira (5) pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

“Confirmado. Flávio me disse que o nosso capitão ratificou sua candidatura. Bolsonaro falou, está falado. Estamos juntos”, afirmou Valdemar em conversa com o site de Brasília Poder360.

O ANÚNCIO E A ESTRATÉGIA FAMILIAR**

A articulação para viabilizar a candidatura de Flávio ganhou corpo em outubro de 2025, durante viagem do senador aos Estados Unidos para visitar o irmão Eduardo Bolsonaro. A decisão final foi selada em 25 de novembro, quando Flávio visitou o pai na carceragem da PF. Após o encontro, Bolsonaro comunicou aliados sobre a escolha.

Em pronunciamento nas redes sociais, Flávio assumiu o que chamou de “missão”. “É com grande responsabilidade que confirmo a decisão da maior liderança política e moral do Brasil, Jair Messias Bolsonaro, de me conferir a missão de dar continuidade ao nosso projeto de nação”, escreveu no X (antigo Twitter).

O senador, que completa 45 anos em 30 de abril de 2026 – dois meses antes do prazo para registro de candidaturas –, está em fim de mandato. Foi eleito em 2018 com mais de 4,3 milhões de votos, a maior votação para o Senado pelo Rio de Janeiro naquele ano.

IMPACTO NO CAMPO DA DIREITA: TARCÍSIO PERDE O ESPÓLIO BOLSONARISTA

A decisão representa um terremoto nas estratégias eleitorais da direita, especialmente para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), considerado o nome mais viável para herdar o eleitorado bolsonarista. Tarcísio vinha sendo apresentado como o candidato natural da direita, contando com o apoio implícito da estrutura partidária e do capital político construído junto a Bolsonaro.

Com Flávio na disputa, Tarcísio perde o acesso direto ao espólio eleitoral do ex-presidente – estimado em cerca de 50 milhões de votos nas eleições de 2022. A sinalização é clara: a família Bolsonaro não pretende ceder protagonismo político a aliados externos ao clã.

Outros governadores cotados para 2026 também enfrentam o dilema de confrontar ou apoiar a escolha bolsonarista. Ratinho Junior (PSD-PR), Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) e Romeu Zema (Novo-MG) terão que recalcular suas estratégias diante da disputa pelo mesmo eleitorado conservador.

REVERBERAÇÃO NA ESQUERDA E CENTRO**

No campo progressista, a definição de Flávio Bolsonaro como candidato é vista com alívio estratégico. Lideranças petistas e aliados consideram que o senador não possui o mesmo carisma nem a capacidade de mobilização do pai, o que poderia facilitar a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou a vitória de outro nome da esquerda.

“É a melhor notícia que poderíamos receber. Flávio não tem votos fora da bolha bolsonarista e carrega investigações que vão pesar na campanha”, avaliou um parlamentar governista que pediu anonimato.

Partidos de centro, como MDB e PSDB, avaliam que a radicalização da direita com um nome da família Bolsonaro abre espaço para uma terceira via mais moderada, embora reconheçam as dificuldades históricas desse projeto.

PRISÃO DE BOLSONARO E COMANDO À DISTÂNCIA**

A decisão de Bolsonaro foi tomada do cárcere, onde está desde sua condenação por tentativa de golpe de Estado. Mesmo preso, o ex-presidente mantém influência sobre a base parlamentar bolsonarista e sobre a estrutura do PL, o maior partido da Câmara dos Deputados.

A estratégia de lançar Flávio preserva o núcleo familiar no comando do projeto político e evita a dispersão do eleitorado entre candidatos que não carregam o sobrenome Bolsonaro. A decisão também reforça a narrativa de perseguição política, central no discurso da família.

DESAFIOS PELA FRENTE

Flávio Bolsonaro terá pela frente o desafio de construir uma identidade política própria, para além da condição de filho do ex-presidente. Investigado no âmbito da chamada “rachadinha” – esquema de desvio de salários de assessores na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro –, o senador carrega passivos jurídicos que podem ser explorados por adversários.

Além disso, precisará ampliar sua base de apoio para fora do Rio de Janeiro e demonstrar capacidade de articulação nacional, algo que ainda não testou em campanhas majoritárias.

A eleição de 2026 começa a tomar forma com a direita unificada em torno de um nome – ainda que sob o comando de um líder preso. Os próximos meses dirão se a aposta da família Bolsonaro se sustentará diante dos desafios políticos e judiciais que se acumulam.

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