Universidade Federal do Amazonas realiza a primeira banca de doutorado composta exclusivamente por pesquisadores indígenas no Brasil
Defesa pioneira explora cosmologia e práticas tradicionais do caxiri entre povos do Rio Negro, reunindo representantes de cinco etnias em um marco para a academia indígena

A Universidade Federal do Amazonas (UFAM) marcará um momento histórico ao realizar, na quarta-feira (10), a primeira banca de doutorado no Brasil composta exclusivamente por pesquisadores indígenas. O evento representa um avanço significativo na valorização do conhecimento indígena acadêmico e cultural.O doutorando Jaime Mora Fernandes Diakara, da etnia Desana, defenderá sua tese em Antropologia Social sobre a cosmologia de seu povo e as práticas tradicionais relacionadas à produção e ao uso do caxiri, uma bebida fermentada e alcoólica feita a partir de mandioca ou milho. O caxiri tem papel central em rituais e festas dos povos do Rio Negro, sendo uma expressão cultural intrínseca à sociabilidade, espiritualidade e economia desses grupos. A preparação do caxiri tradicionalmente é responsabilidade das mulheres e envolve um processo de fermentação que pode durar dias, com variantes que refletem mudanças modernas, como o uso de açúcar para acelerar a fermentação e alterações no teor alcoólico .A banca examinadora será composta por cinco pesquisadores indígenas de cinco diferentes etnias da região: João Paulo Barreto e João Rivelino Barreto (Tukano), Sílvio Barreto (Baré), Justino Rezende (Tuyuka) e Rosilene Fonseca (Piratapuyat), fortalecendo a representatividade e pluralidade cultural amazônica na academia .Além de pesquisador, Jaime Diakara é também artista plástico e autor do livro “Nuku Wiímu Kihty: um conto nunca contado”, apresentado pelo renomado escritor indígena Daniel Munduruku, que valoriza ainda mais a dimensão intercultural e artística do trabalho acadêmico ligado à tradição indígena.Esta banca pioneira evidencia o crescente reconhecimento das epistemologias indígenas no espaço universitário, refletindo uma emergência de vozes originárias que transcendem a mera presença, promovendo uma academia mais plural, inclusiva e comprometida com a preservação dos saberes tradicionais.Atualizações sobre essa conquista apontam para um movimento crescente nas universidades do Amazonas e região Norte no fortalecimento de programas de pós-graduação com foco em etnodiversidade, educação indígena e pesquisa colaborativa com comunidades tradicionais, além de iniciativas para formação de profissionais indígenas em diversas áreas, como enfermagem, que reforçam essa inclusão acadêmica e social.
